Amo você sem porquê e com todos
os porquês.
Você sempre quietinho, sabia
muito mais que todo o barulho do almoço, sabia que todo mundo só se concentrava
em uma coisa quando ela era a sua música. Aquela que eu levo e ela leva de mim
lágrimas e bem aos poucos um meio sorriso de gratidão. Não sei se ele é meio por ser tímido ou se ele nunca vai ser inteiro, já que não consegue se desvencilhar
do mar que transborda meus olhos.
Não tínhamos programação, era
algum filme de bang bang, alguma partida de buraco que durava o dia todo, as
plantas tão conhecidas, um cochilo na rede com a cruzadinha na mão, conversas, o
passeio matinal com os cachorros, toda a preparação carinhosa dos melhores
almoços, a volta do trabalho de bicicleta, todo companheirismo e paciência com
o amor de uma vida, as anotações de uma poesia nova no catálogo de telefone, a
dor da perda do poodle que só não era chato com você, fotos passando na
televisão, risadas, tudo tão simples e tão inteiro.
Lembro do mar, de quando vocês se
conheceram tardiamente, de como foi feliz, de como você aproveitou até a última
gota e de como não reclamou da separação temporária. Não entendia a grandiosidade
disso, de chegar mais cedo que todo mundo na praia, ver o sol subir e descer
com toda a tranquilidade que existe, de ficar com as mãos enrugadas porque não
queria sair da água enquanto ainda houvesse calor e companhia. Um dia mais bem
aproveitado do que todos os meus até então e desde que eu lembro, todos os seus
dias foram assim. Em paz, feliz e sabendo melhor do que ninguém o significado
de carpe diem.
Viver o que vier como se fosse o primeiro dia no mar.
Viver o que vier como se fosse o primeiro dia no mar.