terça-feira, 3 de setembro de 2013

É só ser prática, pensar um pouquinho com a razão, tudo é simples. Tentava se convencer enquanto olhava os pés curvados para dentro dando passos até o metrô. Fica ansiosa porque não consegue acender o cigarro no lugar certo, só lá o tempo fica perfeito para que ele acabe bem na hora que chegar. Agora vai ter que parar e olhar o viaduto convidativo ao suicídio por um tempo. Preferia quando nem um tiquinho fugisse do plano. Passou as estações olhando todos brincando em algum jogo no celular, se sentiu levemente excluída, mas não se importou. Desceu, nesse momento ver um rosto conhecido foi um alívio.
- Heey! – disse nossa protagonista se segurando para não parecer exagerada.
- E aí? Como você tá?
- Bem e você?
- Tudo certo!
- Viu, tenho que passar na farmácia antes.
- Eu também. Bora lá!
Andaram em silêncio por um tempo, concentradas na rua.
- Nossa! Esse lugar tá cada dia mais agitado e cada dia com mais gente estranha.
- É, espera pra ver. Já que aparece uma manifestação ou uma roda de samba ou alguém de pijama ou uma banda de rock ou um garçom te pedindo em casamento ou tudo isso junto. – disse já se soltando e voltando ao normal.
- São Paulo é foda, mas não moraria aqui.
- Não moraria em outro lugar.
Elas se olharam com uma risadinha confidente, daquelas que guarda segredos e histórias.
É por isso que pessoas que se veem pouco continuam amigas, não é? São os momentos que elas viveram juntas. Pensava enquanto o atendente da farmácia se enrolava no único caixa. A amiga estava pagando, aonde ia levar ela? Odeia essa indecisão de locais, melhor dar menos opções ou uma só. Já sabia, a cerveja mais barata era sempre a melhor ideia. Afinal, não importa o lugar, só querem conversar e rir um pouco. Já saiu e foi tomando as rédeas da direção enquanto riam da falta de jeito do moço da farmácia.
- Uma cerveja e dois copos, por favor.
- Mais alguma coisa?
- Por enquanto nada, obrigada.
A terceira garrafa chegou, passaram as conversas superficiais, a hora de checar se a família estava bem, o chororô dos relacionamentos mal resolvidos, a reclamação do trabalho, todos os problemas da casa. Agora finalmente, chegaram às conversas de bar.
- Nada faz sentido.
- Pode ser porque você busca sentido em tudo.
- Mas eu queria encontrar sentido em alguma coisa. Olha, a gente trabalha e continua mantendo esse sistema que não serve pra nada. Tem gente gastando milhões em uma ilha e tem gente que não tem o que comer de manhã. E a gente fica incentivando esse mundo tentando entrar na caixa que alguém falou que é do tamanho certo. A gente compra coisas, pinta o cabelo, trabalha, pra quê?
- Pensando assim não faz sentido fazer nada mesmo, mas sabe que tem várias coisas que a gente faz que mudam um pouquinho o dia de alguém. Vale a pena pelas pequenas coisas.
- Tá. Mas seria bom se todo mundo se preocupasse com isso. Apesar que, tem gente que é tão errada que poderia simplesmente não se preocupar com mais ninguém, só elas são preocupação o bastante.
- Você que é muito preocupada! Vira esse copo aí!
- É, acho que esses mini momentos que servem pra pagar todo o resto.
- Isso e dormir. Dormir é muito bom.
Voltou pra casa a pé depois de deixar a amiga no taxi. Dormir é muito bom mesmo, pena que não basta. Como cansa ver as pessoas mais preocupadas em desfilar do que em dar risadas. É, saí sem maquiagem hoje mesmo, como alguém pode achar isso um absurdo? Lembrou que perdeu o ponto que realmente importa, não adianta se irritar com as pessoas, ela estava mais irritada com ela mesma. Pelo menos ela pode se mudar.