segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Bem cedinho, metrô lotado em São Paulo, rumo a linha amarela, gente, muito movimento e um som baixo das pessoas misturado com as máquinas escandalosas. Estava um tipo de silêncio estranho, diferente do de domingo. No de domingo as pessoas falam baixo, os passos são suaves e desritmados, sem preocupações, dá pra quase ouvir os poucos raios de sol encostando nos rostos ainda tranquilos das pessoas, só uns poucos sons dessoantes. O silêncio de segunda-feira é diferente, é concentrado, é ritmado, porque se uma pessoa destoa, é empurrada para trás, ninguém conversa, no máximo uma boca muda se move acompanhando algum som dos fones. É um quase silêncio, parecido com aquelas máquinas aparelhadas para fazerem o mínimo de som possível, como o barulho do ar condicionado que você só nota que está lá depois que desligam. Pensava que se alguém quisesse me roubar, daria mais lucro levar meu celular do que esse computador da empresa velho e com teclas quebradas. Esse é o som da segunda-feira de manhã. No meio disso, no meio da minha concentração pra não trombar em ninguém com a minha mala desproporcionalmente grande. Naquele formigueiro de gente olhando reto, algo chamou meu olhar pra cima e juro que tinha uma bexiga em formato de coração voando pelo teto, entre dois tubos muito grandes e amarelos. Era aquela meio metalizada, bonita, dessas que a gente só vê em decoração no dia dos namorados e ela estava lá, voando sozinha no meio de tanta gente. O coração me olhou de volta, hesitou por uns milésimos e continuou o caminho entre os canos.